Pequenos pequenos nadas

Brel e Gitanes

Depois do anterior post sobre o desaparecimento dos cigarros Gitanes do mercado, recebi uma dezena de mails sobre o assunto. Chegaram todos de pessoas que não conheço do mundo material, nem elas a mim, com as quais jamais me cruzei, mas que se aproximaram na tristeza solidária e na revolta por verem desaparecer esse momento especial que era ao mesmo tempo um hábito e um ritual. Agora eclipsado por troca com sensaboria normalizada de um tabaco claro e sem alma. Num dos mails recebidos evocava-se um aspecto crucial que me escapara no post: «aquela sensação de ter um Gitanes no meio dos dedos, dada a sua espessura única». É realmente verdade que essa ausência pesa também: aquele milímetro a mais de circunferência, suficiente para conferir ao momento uma robustez que se impunha na experiência do fumador e na forma como este concebia o seu lugar social, vincando a margem de diferença em relação aos vulgares consumidores de tabaco light. E como são importantes para nós, certas vezes, estes pequenos pequenos nadas.

Jacques Brel, fumeur de Gitanes – J’en appelle
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